Extraído do Oficio das Leituras da Liturgia das Horas do dia 12.12.2012
Do "Nicán Mopohua", relato do
escritor indígena do século dezesseis Dom Antônio Valeriano.
("Nican Mopohua", 12ª edición, Buena Prensa,
México, D.F., 1971, p. 3-19.21)
(Séc. XVI)
A
voz da pomba se escuta em nossa terra
Num sábado de mil e quinhentos e trinta
e um, perto do mês de dezembro, um índio de nome Juan Diego, mal raiava
a madrugada, ia do seu povoado a Tlatelolco, para participar do culto
divino e escutar os mandamentos de Deus.
Já amanhecia, quando chegou ao cerrito
chamado Tepeyac e escutou que do alto
o chamavam:
- Juanito! Juan Dieguito!
Subiu até o cimo e viu uma senhora de
sobre-humana grandeza, cujo vestido brilhava
como o sol, e que, com voz muito branda e suave, lhe disse:
- Juanito, menor dos meus filhos, fica
sabendo que sou Maria sempre Virgem, Mãe
do verdadeiro Deus, por quem vivemos. Desejo muito que se erga aqui um templo para mim, onde mostrarei e prodigalizarei
todo o meu amor, compaixão, auxílio e proteção a todos
os moradores desta terra e também a
outros devotos que me invoquem confiantes. Vai ao Bispo do México e manifesta-lhe o que tanto desejo. Vai e põe nisto
todo o teu empenho.
Chegando Juan Diego à presença do Bispo
Dom Frei Juan de Zumárraga, frade de São
Francisco, este pareceu não dar crédito e respondeu:
- Vem outro dia, e te ouvirei com mais
calma.
Juan Diego voltou ao cimo do cerro,
onde a Senhora do céu o esperava,
e lhe disse:
- Senhora, menorzinha de minhas filhas,
minha menina, expus a tua mensagem ao
Bispo, mas parece que não acreditou. Assim, rogo-te que encarregues alguém mais importante de levar tua mensagem com mais
crédito, porque não passo de um joão-ninguém.
Ela respondeu-lhe:
- Menor dos meus filhos, rogo-te
encarecidamente que tornes a procurar o Bispo amanhã
dizendo-lhe que eu própria, Maria sempre Virgem, Mãe de Deus, é que te envio.
Porém no dia seguinte, domingo, o Bispo
de novo não lhe deu crédito e disse ser indispensável
algum sinal para poder-se acreditar que era Nossa Senhora mesma que o enviara. E o despediu sem mais aquela.
gravemente e à noite pediu-lhe que
fosse a Tlatelolco de madrugada, para
chamar um sacerdote que o ouvisse em
confissão.
Juan Diego saiu na terça-feira,
contornando o cerro e passando pelo outro lado, em
direção ao Oriente, para chegar logo à Cidade do México, a fim de que Nossa Senhora não o detivesse. Porém ela veio a seu
encontro e lhe disse:
- Ouve e entende bem uma coisa, tu que
és o menorzinho dos meus filhos:
o que agora te assusta e aflige não é
nada. Não se perturbe o teu coração nem te inquiete coisa alguma. Não
estou aqui, eu, tua mãe? Não estás sob a minha sombra?
Não estás porventura sob a minha proteção? Não te aflija a doença do teu tio. Fica sabendo que ele já sarou. Sobe
agora, meu filho, ao cimo do cerro, onde acharás
um punhado de flores que deves colher e trazer-mo.
belas rosas de Castela que ali haviam
brotado em pleno inverno; envolvendo-as em
sua manta, levou-as para Nossa Senhora. Ela lhe disse:
- Meu filho, eis a prova, o sinal que
apresentarás ao Bispo, para que nele veja a
minha vontade. Tu é o meu embaixador, digno de toda a confiança.
Juan Diego pôs-se a caminho, agora
contente e confiante em sair-se bem de
sua missão. Ao chegar à presença do
Bispo, lhe disse:
- Senhor, fiz o que me ordenaste. Nossa
senhora consentiu em atender o teu pedido.
Despachou-me ao cimo do cerro, para colher ali várias rosas de Castela, trazê-las a ti, entregando-as pessoalmente. Assim o
faço, para que reconheças o sinal que pediste e assim cumpras a
sua vontade. Ei-las aqui: recebe-as.
Desdobrou em seguida a sua branca
manta. À medida em que as várias rosas
de Castela espalhavam-se pelo chão
desenhava-se no pano e aparecia de repente a
preciosa imagem de Maria sempre Virgem, Mãe de Deus, como até hoje se conserva no seu templo de Tepeyac.
A cidade inteira, em tumulto, vinha ver
e admirar a sua santa imagem e
dirigir-lhe suas preces. Obedecendo à
ordem que a própria Nossa Senhora dera ao
tio Juan Bernardino, quando devolveu-lhe a saúde, ficou sendo chamada como ela queria: "Santa Maria sempre Virgem de
Guadalupe".