13/08/2014

Sejamos missionários no ambiente escolar

Brasília, 1º de Agosto de 2014. 
Caros párocos e demais responsáveis pela evangelização da juventude no Brasil.

“Todos aqueles que ouviam o menino ficavam maravilhados
com sua inteligência e suas respostas.” (Lc 2,47)

Em diversas partes, as Sagradas Escrituras nos mostram a força da presença de Jesus que“ensinava como alguém que tem autoridade, e não como os escribas e fariseus” (Mt 7,28)! Ensinar “com autoridade” é falar com convicção e coerência. Estes dois elementos são essenciais e complementares. As verdades ensinadas e defendidas só são escutadas com respeito, quando aquele que fala empenha-se em viver aquilo que prega. Por outro lado, este testemunho de vida necessita de fundamentação sólida para ser mais incisivo e duradouro na vida das pessoas.
Entramos no mês de agosto, mês vocacional. É um momento bem propício para revisarmos a vivência de nossa vocação. Ao escutar a voz de Deus que nos chama para um determinado estado de vida e para um serviço qualificado à humanidade, nos sentimos convocados a fortalecer nossas convicções e a ser mais coerentes.
Somos tentados e pressionados por todos os lados e o desafio de viver com coerência a vocação cristã nos impõe aprofundamento da nossa fé. Dentro e fora de nós existem forças que nos obrigam às decisões. Ao lado de nossa tendência de comodismo e fuga, encontra-se uma cultura que avança em diversos aspectos questionando-nos constantemente sobre os fundamentos de nossa fé.
Articular fé e razão se torna, portanto, um imperativo em nossa vocação de discípulos missionários de Cristo. Estamos convencidos de que o processo de amadurecimento da fé exige raízes que lhe garantam consistência, caso contrário estará fadada a se esvaziar diante das crises e dos questionamentos que os dias atuais se nos impõem. Assim, também, a Igreja não admite uma intelectualidade desconectada das outras dimensões da vida humana, inclusive da dimensão religiosa. O ser humano é belo quando considerado em sua totalidade!
Mais do que nunca, a Igreja está sendo chamada a entrar no mundo acadêmico e universitário e exercer sua vocação na história de iluminar a vida, defender os princípios que a dignificam e defendê-la de ideologias relativistas, discriminatórias, manipuladoras, tendenciosas, reducionistas. “À medida que avança o processo de escolaridade, em especial na fase universitária, os jovens se fascinam pela racionalidade das ciências e tecnologias, pela eficiência e organização da sociedade produtiva e do mercado, pelo compromisso com a transformação social, de tal forma que sua fé pode entrar, em alguns casos, em conflito com a razão; mas pode, também, amadurecer com a contribuição dessa razão. A ação pastoral deve favorecer a base intelectual da sua fé para que saibam se mover de maneira crítica dentro do mundo intelectual, acompanhados de vida cristã autêntica para que possam atuar responsavelmente no mundo do qual fazem parte.” (Doc. 85 CNBB, 219)

O Encontro de Revitalização da Pastoral Juvenil no Brasil, acontecido em dezembro passado à luz do Documento 85 da CNBB, ao refletir sobre a 7a. Linha de Ação – DIÁLOGO FÉ E RAZÃO – definiu, assim, para os próximos anos, as duas PISTAS DE AÇÃO:
1.     criar espaço de diálogo sobre o tema fé-razão nas comunidades e no mundo acadêmico;2.     fomentar o Setor Universidades, articulando as diferentes experiências já existentes.
Nessas prioridades, notamos o pedido para que este diálogo aconteça tanto nos ambientes eclesiais quanto na universidade, por meio da força conjunta das experiências que já existem. Ao contemplar nossos universitários que estão presentes em nossas Comunidades, sentimo-nos responsáveis por auxiliá-los a valorizar a razão para amadurecer a fé; já nos ambientes universitários somos convocados a mostrar que a fé só tem a somar com as reflexões acadêmicas. Mesmo quando estas são questionadas pela fé, percebemos nisso um contributo significativo e não um empecilho para o desenvolvimento e o progresso, afinal de contas a religiosidade é uma das dimensões intrínsecas ao ser humano.
A Igreja pode ousar mais na missão no mundo da cultura. Tanto a Universidade quanto as escolas de Ensino Médio estão, em muitos lugares, carentes da presença da Igreja em sua missão de educadora. Eis algumas sugestões que poderiam fazer a diferença nestes ambientes:

1)    reunir periodicamente os jovens universitários que frequentam as celebrações eucarísticas paroquiais e, por meio do acompanhamento de um casal designado para isto, auxiliá-los no exercício do diálogo fé-razão, capacitando-os como especiais protagonistas cristãos em suas próprias universidades;
2)    motivar os jovens mais engajados da paróquia a exercitarem a cultura da acolhida e do encontro, organizando uma espécie de “plantão universitário” na paróquia para atender e orientar os jovens que chegam de outras cidades e buscam informações, hospedagem, orientação espiritual;
3)    divulgar os documentos e mensagens da Igreja que versam sobre diversas áreas socioculturais, facilitar sua aquisição e incentivar a leitura, principalmente entre os jovens, para que tomem consciência da posição católica frente a todos os campos que atingem a vida da pessoa humana;
4)    criar, a partir dos próprios universitários engajados na paróquia, subsídios práticos(folders, spots, vídeos, etc.) sobre os conteúdos fundamentais da Doutrina Social da Igreja para serem divulgados de maneira rápida nos ambientes eclesiais e universitários, bem como pelas redes sociais;
5)    promover fóruns e seminários nos estabelecimentos de ensino superior localizados no território paroquial, contribuindo com aprofundamento de temas mais polêmicos com relação à bioética, política, economia, cidadania, sexualidade, etc.;
6)    visitar periodicamente as universidades e escolas presentes no território paroquial, criando vínculos e oferecendo assistência religiosa e serviços pastorais, como missas, sacramentos, palestras, grupos bíblicos, bênçãos, ensino religioso, iniciativas ecumênicas, homenagens em dias festivos, atendimentos, etc.;
7)    descobrir os professores universitários que frequentam regularmente a paróquia e recolher suas sugestões de como a Igreja poderia se fazer mais presente nos ambientes acadêmicos, contribuindo, assim, com a qualidade da cultura, da formação, das reflexões, etc.;
8)    promover e/ou acompanhar a pastoral nas universidades presentes no território paroquial, segundo os documentos e as orientações da Comissão Episcopal Pastoral para a Cultura e Educação, Setor Universidades, da CNBB;
9)    solicitar às universidades para que incentivem e organizem grupos de alunos estagiários e voluntários para realizarem projetos sociais nas áreas mais carentes do território paroquial;
10) incentivar a organização da Pastoral da Juventude Estudantil (PJE) nas Escolas de Ensino Médio e a celebração da Semana do Estudante (5 a 11 de agosto), segundo as orientações contidas no site www.pjebr.
A edificação do Reino pela Igreja e a construção de um mundo novo, pela sociedade, falam a mesma linguagem quando possuem os mesmos ideais de vida plena para a pessoa humana e para o bem comum. Fé e razão, religião e ciência, são elementos intrinsecamente ligados. Alguns temas comuns avançam quando se somam a força da razão e o valor da fé: democracia, diálogo, felicidade, transparência, direitos individuais, liberdade, justiça, igualdade, respeito, vida plena para todos. “A Igreja continua profundamente convencida de que fé e razão se ajudam mutuamente, exercendo, uma em prol da outra, a função tanto de discernimento crítico e purificador como de estímulo para progredir na investigação e no aprofundamento” (Fides et Ratio, 100).
Peçamos a intercessão de Nossa Senhora para que nos sintamos cada vez mais missionários de uma Igreja edificada na história para exercer sua missão delicada e primordial de educadora de valores e defensora da vida das pessoas.
Com estima e agradecido por tudo aquilo que sua paróquia e estruturas já têm feito a favor dos jovens universitários e das instituições acadêmicas aos seus cuidados, abraço-os a todos com minhas orações.

Dom Eduardo Pinheiro da Silva, sdb
Presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Juventude da CNBB