06/03/2015

O evangelho da Misericordia



O Evangelho de Lucas apresenta a teologia da misericórdia divina. A palavra misericórdia vem da junção de dois termos: “miser”, que quer dizer miséria, e “cordis”, que quer dizer coração. Deus olha com seu coração bondoso para a miséria humana.
No Terceiro Evangelho, Jesus é descrito como o homem misericordioso (cf. Lc 6,36-38; 7,13-14; 7,44-48; 10,29-37; 15,4-7; 15,8-10; 15,11-31). Ele vê a miséria humana, vai ao encontro daquele que padece e tira-o de sua condição inumana. Jesus se deixa tocar pelo outro, sente compaixão, aproxima-se. A compaixão dele expressa sofrimento com quem sofre; ele assume a dor com o outro e, com esse gesto, mostra o primeiro passo em direção à misericórdia, que é estar em sintonia com o sofredor, para, então, lhe oferecer sua ajuda.
Na compreensão lucana, o gesto da misericórdia envolve um relacionamento com uma pessoa concreta. Salta aos olhos do leitor do Terceiro Evangelho essa atitude de Jesus: “ternura e vigor, misericórdia e solidariedade não faltavam no coração e na prática de Jesus” (MOSCONI, 2007, p.115), sempre compassivo, disposto a entrar em comunhão com o sofredor.
Jesus como boa-nova universal de Deus. Jesus ensina e vive a misericórdia. Demonstra o carinho pelo próximo e cuida dele. É prática comum do Nazareno acolher os excluídos. Ele entra em comunhão com todos os rejeitados da época: publicanos, viúvas, mulheres pecadoras etc. Tal prática aparecerá descrita nas parábolas ensinamentos que Jesus difunde e nas atitudes dele com os que vão ao seu encontro, mas também e principalmente na teologia da palavra que Lucas difunde, apontando Jesus como boa-nova universal de Deus.
Para Lucas, a salvação é para todos, e quem salva é Deus em Cristo. As parábolas lucanas explicitam como Jesus anuncia a bondade do Pai. Deus é bom! Eis uma expressão que a Bíblia repete muitas vezes. Por isso, podemos afirmar que é próprio de Deus e está na sua essência socorrer quem dele necessita. Mas esta bondade aparece também com outra face em Lucas. Não só nas parábolas ou nas atitudes de Jesus que Lucas descreve, pode-se perceber o amor misericordioso de Deus. Esta misericórdia é ainda mais visível na boa-nova que o evangelista se empenha em anunciar, sem excluir ninguém, sem deixar de fora uma única pessoa sequer. Todos são chamados a acolher Jesus, boa-nova universal de Deus.
Lucas faz questão de mostrar que a misericórdia é a virtude própria de Deus. A palavra anunciada para todos revela essa misericórdia. Deus estende sua salvação aos pagãos por pura bondade, sem cobrar nada em troca, sem nenhum merecimento da parte dos gentios.
A salvação é dom oferecido por misericórdia do Pai em Cristo. Lucas convida seus leitores a aderir à palavra anunciada, afinal só aqueles que reconhecerem Jesus na sua vida serão capazes de ouvir e agir como seu Mestre: “Sejam misericordiosos como vosso Pai é misericordioso” (Lc 6,36).