A Trindade, numa comunicação íntima entre as três pessoas
divinas, decidiu que era necessário enviar sobre a terra alguém da mesma
Trindade para ser “missionários”, para poder comunicar a plenitude da vida e
tornar a todos nós participantes desta mesma vida. Jesus é o grande missionário
do Pai, enviado pelo Espírito Santo. O Pai enviou o seu filho unigênito não
para que ele revelasse a si mesmo mas revelasse todo o mistério da Santíssima
Trindade e comunicasse a plenitude da vida.
Como nos toca profundamente contemplar Jesus que, vindo
entre nós, assume com clareza a sua missionaridade. Ele sabe que não pode
enviar a si mesmo, que não tem mensagem própria e nem palavras próprias, mas a
sua missão é anunciar tudo o que ele ouve do Pai
O evangelista Lucas se detém nesta missionaridade de
Jesus e nos diz:
Jesus chegou a Nazaré onde se tinha criado. Segundo seu
costume, entrou num sábado na sinagoga e se levantou para fazer a leitura.
Deram-lhe o livro do profeta Isaías. Abrindo o livro, deu com a passagem onde
se lia: O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me ungiu para anunciar
a boa-nova aos pobres; enviou-me para proclamar aos aprisionados a libertação,
aos cegos a recuperação da vista, para pôr em liberdade os oprimidos, e para
anunciar um ano da graça do Senhor. Jesus fechou o livro, devolveu-o ao
assistente e sentou-se. (Lc 4,16-20)
O que nós percebemos neste texto é que Jesus não tem uma
mensagem própria, como nenhum missionário pode ter a sua mensagem, que ele
espera a verdadeira e autêntica mensagem que é a palavra de Deus. Jesus, na
medida em que caminha para o fim da sua missão terrena, sente a necessidade de
esperar a outros que possam continuar esta missão recebida pelo Pai, por isso
faz surgir do seu amor os apóstolos e discípulos que, fortalecidos no Espírito
Santo, abandonando todo o medo, com coragem vão enfrentando todos os perigos
para comunicar não mais uma mensagem, mas sim ao Cristo ressuscitado.
“Missão”, legado que
o próprio Jesus delegou aos seus.
Antes de se despedir dos seus discípulos Jesus levou os
mais íntimos até a montanha das Oliveiras onde ele sobe ao céu e antes de subir
ao céu dá uma ordem a todos: “IDE!” Ninguém mais poderá esquecer estas palavras
de envio. O envio não é para os que estão pertos e que pensam da mesma forma,
mas sim o “ir a todas as nações e a todos os povos”, para que os seguidores de
Jesus aumentem e para que o evangelho deixe os estreitos confins da Galiléia e
se espalhe para o mundo inteiro. Todos foram… e onde passavam criavam novas
missionaridades e novos missionários eram enviados, e o evangelho se fazia cada
vez mais conhecido.
Ainda no Evangelho
segundo S. Mateus 9,35-38.10,1.6-8. Podemos constatar o envio à missionaridade:
Jesus percorria as cidades e as aldeias, ensinando nas
sinagogas, proclamando o Evangelho do Reino e curando todas as enfermidades e
doenças. Contemplando a multidão, encheu-se de compaixão por ela, pois estava
cansada e abatida, como ovelhas sem pastor. Disse, então, aos seus discípulos:
«A messe é grande, mas os trabalhadores são poucos”“. Rogai, portanto, ao
Senhor da messe para que envie trabalhadores para a sua messe.» Jesus chamou
doze discípulos e deu-lhes poder de expulsar os espíritos malignos e de curar
todas as enfermidades e doenças. Ide, primeiramente, às ovelhas perdidas da
casa de Israel. Pelo caminho, proclamai que o Reino do Céu está perto. Curai os
enfermos, ressuscitai os mortos, purificai os leprosos, expulsai os demónios.
Recebestes de graça, dai de graça.
Hoje a igreja está preocupada com a pouca missionaridade.
Os cristãos não se sentem comprometidos no anúncio. No máximo se esforçam para
viver o evangelho no castelo do próprio coração, tentando evangelizar a própria
família e, quando muito, o próprio ambiente de trabalho. Mas ir para outras
terras, ultrapassar o estreito campo do próprio egoísmo, não entra na
consciência evangelizadora de muitos cristãos. È necessário então repensar a
“missionaridade” dentro da igreja, fazer compreender que ser missionário não é
uma tarefa restrita a um pequeno grupo: sacerdotes, diáconos, consagrados… mas
sim é a missão de todos os batizados.
O trabalho é muito e os trabalhadores são poucos. Desde
aquela época existiam dificuldades na missão dos cristãos. Infelizmente as
pessoas não querem se comprometer, porque todo comprometimento exige dedicação,
entrega, renúncia. Com certeza, evangelizar não é um trabalho fácil, existem
muitos obstáculos no caminho e poucas pessoas dispostas a ouvirem e vir caminhar
conosco. E Jesus nunca disse que ia ser diferente.
Neste Evangelho, Jesus antes de mandar os 72 em missão,
já os previne de que nem em todos os lugares eles serão aceitos, mostra que
serão rejeitados mesmo, mas é preciso continuar, mesmo que isto aconteça não se
pode parar.
As dificuldades virão, principalmente nos locais que mais
amamos, como nossas casas e até mesmo na Igreja. Evangelizar os que não
conhecem nem sempre é o mais difícil, pior é fazer os que já conhecem
converter-se diariamente, porque infelizmente muitos se acomodam. O importante
é ser perseverante, é ir em busca desses corações e principalmente, levar a paz
às essas pessoas e locais. Sem essa paz nunca poderemos cumprir nossa missão,
pois em todos momentos seríamos levados a desistir, todavia, a certeza que
nossa recompensa virá e que nossa voz poderá ajudar a tantos que necessitam,
nos fortalece e nos faz cada vez mais missionários.
Vejamos no Evangelho de Jesus segundo Lucas (Lucas 10,1-9)
Naquele tempo, o Senhor escolheu outros setenta e dois
discípulos e os enviou dois a dois, na sua frente, a toda cidade e lugar aonde
ele próprio devia ir. E dizia-lhes: “A messe é grande, mas os trabalhadores são
poucos. Por isso, pedi ao dono da messe que mande trabalhadores para a
colheita. Eis que vos envio como cordeiros para o meio de lobos. Não leveis
bolsa, nem sacola, nem sandálias, e não cumprimenteis ninguém pelo caminho! Em
qualquer casa em que entrardes, dizei primeiro: ‘A paz esteja nesta casa!’ Se
ali morar um amigo da paz, a vossa paz repousará sobre ele; se não, ela voltará
para vós. Permanecei naquela mesma casa, comei e bebei do que tiverem, porque o
trabalhador merece o seu salário. Não passeis de casa em casa. Quando entrardes
numa cidade e fordes bem recebidos, comei do que vos servirem, curai os doentes
que nela houver e dizei ao povo: ‘O Reino de Deus está próximo de vós’ ”.
Palavras da salvação
Precisamos para o momento reassumir as palavras
programáticas do apóstolo Paulo: “ai de mim se eu não evangelizar”! Não
evangelizamos porque nos sentimos bem ou porque não existem dificuldades, mas
porque é uma exigência íntima e profunda do nosso ser cristão. Quem sabe é o
momento de ir de porta em porta anunciando a todos a nossa fé, não ter medo de
sermos rejeitados ou incompreendidos, de não esconder a nossa adesão ao Cristo
e às nossas convicções no nosso dia a dia.
Não se pode mais ficar fechado no mundo interior, é
necessário retomar o caminho das ruas e gritar a todos e de todos os lugares a
nossa fé. Ser missionário é algo de fascinante. Não conservar o pequeno rebanho,
mas deixar as noventa e nove ovelhas no redil e ir ao encontro da ovelha
perdida e das ovelhas que estão longe do redil de Cristo porque nunca ouviram
falar de Cristo. O ser missionário é cada um de nós lutarmos com a palavra e
especialmente com o nosso testemunho de vida para reconquistar os que, se
esqueceram de Cristo. Sentir a dor de Jesus por toda pessoa que não o reconhece
e não o ama por falta de anunciadores. (Frei Patrício Sciadini, OCD)