Com o domingo de Pentecostes se conclui a semana de orações pela unidade dos cristãos. Entre nós, ela coincide com a preparação de Pentecostes. Na Europa, ela é celebrada na semana que precede a festa da conversão de São Paulo, a 25 de janeiro.
Sempre é bom lembrar que foi no contexto desta “semana de orações pela unidade dos cristãos” que João 23 lançou a idéia do Concílio, em 25 de janeiro de 1959. Desde o início, o Concílio esteve ligado ao ecumenismo.
De fato, foi a causa ecumênica que proporcionou o ambiente de pronta acolhida à iniciativa de João 23. Tanto que no começo, a versão que se difundiu era que o Concílio iria realizar uma ampla reunião dos representantes das diversas Igrejas Cristãs, com a finalidade de superar os desentendimentos acontecidos no passado, e propor um caminho de plena reconciliação.
O povo se entusiasmou, achando que o Concílio iria refazer a unidade entre os cristãos.
Para segurar este entusiasmo ecumênico, João 23 sentiu a necessidade de fazer alguns esclarecimentos. Mesmo que suscitado pela causa ecumênica, o Concílio seria realizado pela Igreja Católica, como caminho prévio para aplainar a estrada do diálogo entre as Igrejas, identificando os passos que precisavam ser dados para a lenta aproximação entre os cristãos.
Com isto, cresceu a consciência da gravidade das divisões acontecidas, e da complexidade de sua superação. Mesmo convidando “observadores” de outras Igrejas, o Concílio se realizaria no âmbito da Igreja Católica. Mas ele seria “ecumênico” não só por sua índole de abertura para a dimensão universal dos assuntos a serem tratados, mas também no sentido mais restrito da palavra, fazendo da preocupação com a unidade dos cristãos a referência permanente para todos os assuntos a serem tratados.
Assim, o sonho da plena reunificação dos cristãos ficaria para depois do Concílio, como fruto de iniciativas a serem levadas em frente, de acordo com as orientações aprovadas pelo Concílio, e consignadas no documento “Unitatis Redintegratio”, o decreto sobre a prática do ecumenismo.
Olhado o Concílio à distância de 50 anos de sua realização, é forçoso constatar que os avanços ecumênicos foram muito lentos. Houve passos positivos de aproximação com os luteranos, expressos na declaração conjunta, mostrando que não existem diferenças em torno da tese central de Lutero, sobre a justificação. Daria para dizer que os impasses doutrinais entre católicos e luteranos estariam superados. O que não significa dizer que já foram analisadas as questões práticas de uma eventual reconciliação entre católicos e luteranos.
Com o mundo ortodoxo, houve gestos muito fecundos, que produziram mudanças significativas no clima do relacionamento entre as duas grandes tradições eclesiais do cristianismo, a “Igreja do Oriente” e a “Igreja do Ocidente”. Ainda permanece no horizonte do clima ecumênico do Concílio, o abraço de paz entre o Patriarca Atenágoras de Constantinopla, e o Papa VI, retirando a “excomunhão mútua”, acontecida no longínquo ano de 1054.
Diante do esfacelamento eclesial hoje existente, com o proliferar de tantas denominações cristãs, parece sempre mais clara e mais urgente a responsabilidade de católicos e ortodoxos refazerem sua plena comunhão eclesial, para juntos testemunharem o tesouro da fé que Cristo confiou aos seus discípulos.
O fato é que o Concílio recebeu do movimento ecumênico o impulso para a sua realização. Agora, para levar em frente a sua implementação, se faz necessária a retomada do ecumenismo, com maior ímpeto e mais ousadia.
Nestes dias, o Patriarca Teodoro II, dos Ortodoxos Coptas, do Egito, visitou o Papa Francisco, demonstrando grande disposição para a plena reconciliação entre as duas Igrejas.
Como falou o etíope ao Diácono Felipe: “temos aqui água, o que me impede de ser batizado” (Atos 8, 37), poderíamos dizer a Francisco e a Teodoro: “o mundo está necessitado, os cristãos estão esperando, o que falta para a completa reconciliação?”