Comungar na boca ou na mão?
Às vezes, ocorrem discussões inúteis sobre a melhor maneira de receber a comunhão: em pé ou de joelhos, na boca ou nas mãos. Tais discussões às vezes buscam uma prática sacramental melhor, mas, outras vezes, mostram uma perigosa instrumentalização de algo muito sagrado ao serviço de posições ideológicas próprias.
As normas da Igreja deixam bem claro que "os ministros sagrados não podem negar os sacramentos àqueles que oportunamente os pedirem, se estiverem devidamente dispostos e pelo direito não se encontrarem impedidos de os receber" (Código de Direito Canônico, 843 § 1). Isso se aplica concretamente à Eucaristia quando se diz, por exemplo, que "não é lícito negar a sagrada Comunhão a um fiel, por exemplo, só pelo fato de querer receber a Eucaristia ajoelhado ou de pé" (Redemptionis sacramentum, 91).
Quanto à forma de recebê-la, o "manual de instruções" do Missal Romano – aqui estamos falando sempre do rito romano – indica que, depois de responder "amém", o fiel comunga "na boca ou, onde for concedido, na mão, à sua livre escolha. O comungante, assim que recebe a santa hóstia, consome-a inteiramente" (Instrução Geral do Missal Romano, 161). Ou seja, há países em que a conferência episcopal permitiu, com a aprovação da Santa Sé, receber o Corpo de Cristo nas mãos, como acontece na Espanha, Itália e Brasil.
Quando se comunga na mão
A regulamentação eclesial deixa claro que o importante é comungar de maneira reverente, conscientes de que não se está comendo um pedaço de pão comum, mas a matéria que foi transformada sacramentalmente no Corpo de Jesus. Na história da Igreja, encontramos testemunhos a favor tanto de uma prática como da outra.
Como se trata de algo extremamente importante, e para evitar uma prática equivocada, o organismo da Santa Sé que vela pela liturgia e por toda a parte das celebrações, ajudando o Papa em sua missão – a Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos – publicou em 1985 uma breve Instrução sobre este tema.
As condições para receber a comunhão na mão são de bom senso: que se manifeste respeito pela presença real de Cristo, que o gesto seja realizado com nobreza, que se diga claramente "amém", que se comungue imediatamente e na frente do ministro, que seja este que coloque a hóstia na mão do comungante, que as mãos estejam limpas etc.
Então, o que podemos considerar com abuso? Além de qualquer situação que contradiga a Instrução, há casos claros em que não se deveria dar a comunhão na mão. Podemos pensar em casos concretos e reais, como crianças brincando com o Corpo de Cristo; pessoas que se dedicam a contemplar a hóstia, porque esta supostamente lhes transmite "energias"; outros que a levam de "lembrança" para casa, seja por devoção ou superstição; e inclusive os que a guardam para dá-la ao gado. Tudo isso já aconteceu.
Pensemos, então, no que pode acontecer em Missas massivas, sobretudo as presididas pelo Papa, nas quais o Santíssimo Sacramento corre o risco de ser considerado um "souvenir".
O satanismo entra em jogo
É aqui que precisamos levar em consideração a presença e ação das seitas satânicas. Não se trata de lendas urbanas nem de teorias conspiratórias às quais os tradicionalistas se agarram para exigir a comunhão na boca. É uma realidade. Porque existem ritos satânicos nos quais se profana a Eucaristia.
Para obter hóstias consagradas com esta finalidade, há principalmente três caminhos: que um sacerdote celebre a Missa com esta intenção sacrílega; a profanação de um sacrário; ou a obtenção ilícita, mediante uma falsa comunhão– que é o tema que nos interessa. De fato, como as duas primeiras formas são mais problemáticas, o terceiro caminho é o que pode ser mais empregado pelos adeptos dessas seitas para a realização dos seus ritos.
De que ritos estamos falando? Em primeiro lugar, a chamada comumente de "missa negra", uma simulação sacrílega da Celebração Eucarística dos católicos, na qual são utilizados muitos elementos da Missa e usados ao contrário, com uma finalidade que não tem nada a ver com a religião (por exemplo, buscando a submissão sexual de uma pessoa, fazer-lhe um bem ou um mal, sempre invocando o diabo).
Deixando de lado a complicada discussão sobre se há sacrifícios humanos ou não, nestes ritos se pode profanar o Corpo de Cristo de diversas maneiras (pisoteando-o, passando-o pelo corpo nu da mulher que serve o altar etc.).
Não se trata simplesmente de rumores nem de declarações exageradas de ex-adeptos pouco fiáveis. Podemos ler os relatos em seus livros. Por exemplo, em "The satanic rituals", Anton Szandor LaVey, fundador da Igreja de Satã, escreve: "Talvez a frase mais potente de toda a missa é a que segue à profanação da hóstia: 'Desapareça no vazio do seu céu vazio, porque você nunca existiu nem existirá jamais'".
Ele usa expressamente a palavra "profanação" ("desecration"), porque, ainda que rejeite a existência de Cristo, conhece bem o valor que os católicos dão à Eucaristia e, por isso, se age desta maneira. LaVey também explica que, frente ao uso que alguns fizeram de ornamentos católicos nas missas negras, "a autenticidade de uma hóstia consagrada parece ter sido muito mais importante".
E o que a Igreja faz diante disso?
Antes de tudo, a Igreja cuida do mais importante que tem: o Corpo sacramental de Cristo Jesus, velando, com seus ensinamentos, com sua prática e com suas normas, para que a Eucaristia seja respeitada como o que é: presença real de Cristo, comungado pelos fiéis e protegido nos sacrários para a adoração e a comunhão dos enfermos.
Além disso, a Igreja é clara na hora de considerar penalmente a profanação da Eucaristia, algo que considera como um "delito contra a religião e a unidade da Igreja", e afirma sem rodeios: "Quem deitar fora as espécies consagradas ou as subtrair ou retiver para fim sacrílego incorre em excomunhão latae sententiaereservada à Sé Apostólica" (CIC 1367).
Por isso, é preciso entender que, em algumas ocasiões, como nas Missas multitudinárias – nas quais às vezes não há uma fila normal de comungantes –, quando não se pode garantir que o Corpo de Cristo seja comungado com normalidade, de forma excepcional se tomam as maiores precauções possíveis.
Alguns podem dizer que se dá o caso de pessoas que comungam na boca aparentemente, mas depois não engolem a hóstia, guardando-a com um fim sacrílego. Apesar disso, os ministros da comunhão devem colocar todos os meios possíveis para evitar isso, e um desses meios é depositá-la diretamente na boca do fiel.
Nas Missas presididas em Roma pelo Papa, convergem duas razões fundamentais: quem é o ministro que consagrou o pão oferecido no altar (porque, de fato, já foram feitos até leilões na internet com hóstias consagradas pelo Papa), e a notável difusão do satanismo na Itália, que legitima um maior medo que em outros lugares.
Fonte: Aleteia