Índios Bororo acolhem a Cruz e o Ícone de Nossa Senhora, em Rondonópolis (MT), elevando preces a Deus em língua nativa. Exemplo de evangelização enculturada.
O verbo Evangelizar ressoa desde o mandato de Jesus relatado no final dos Evangelhos de Mateus e Marcos. Os discípulos assumiram-no com coragem e denodo até a entrega da própria vida. E assim a fé cristã cresceu no meio de judeus e pagãos por meio da pregação.
O apóstolo Paulo resumiu em poucas palavras a necessidade da evangelização, quando afirma que a salvação vem de crer no nome do Senhor. Mas como crer naquele que não ouviram? E como o ouvirão, se ninguém o proclamar? E para proclamar precisamos de enviados. Logo a fé vem pela pregação (Rm 10 13-17).
Essa consciência alimentou durante séculos o fogo evangelizador. Acrescente-se na Igreja Católica a interpretação, no sentido literal, de que “fora da Igreja não há salvação”. Então os missionários saíram dispostos a tudo para converter as pessoas para dentro da Igreja com o batismo e assim arrancá-las da condenação eterna.
Hoje temos uma compreensão mais ampla. A de que a salvação de Deus vai muito além dos limites visíveis da Igreja e da evangelização explícita, conforme afirma o Papa Paulo VI na Exortação Apostólica Evangelii Nuntiandi (n. 21).
Sabemos, contudo, que a evangelização significa graça para quem acolhe o Evangelho. E nele existem tesouros que só chegam às pessoas pelo seu conhecimento. Daí a responsabilidade de fazer chegá-los a quantos podemos.
A evangelização significa graça para quem acolhe o Evangelho. Daí a responsabilidade de fazer chegá-lo a quantos podemos.
Nas últimas décadas soou a expressão Nova Evangelização. Ela tem duas vertentes principais de compreensão. Ainda que muitos não saibam, Medellín já a usou. E depois se tornou muito divulgada por obra de João Paulo II que a empregou em vários momentos de suas viagens apostólicas pela Polônia, Haiti, República Dominicana e Uruguai.
Nas últimas décadas soou a expressão Nova Evangelização. Ela tem duas vertentes principais de compreensão. Ainda que muitos não saibam, Medellín já a usou. E depois se tornou muito divulgada por obra de João Paulo II que a empregou em vários momentos de suas viagens apostólicas pela Polônia, Haiti, República Dominicana e Uruguai.
Em Medellín, o termo adquiriu sentido libertador. Analisara-se a evangelização do Continente e percebera-se como ela não tinha considerado, em muitos momentos, as culturas indígenas e, depois da vinda dos escravos, a cultura negra. Impusera-se com o Evangelho a cultura europeia ocidental, como a única verdadeira cultura.
Medellín pensou girar radicalmente o processo evangelizador da América Latina. Propôs pensá-lo a partir da base, em vez de simplesmente plantar em nossas terras o modelo europeu. Neste sentido, ela se realizava por meio das comunidades eclesiais de base, alimentadas pela teologia da libertação. No fundo, portanto, ela visava principalmente aos pobres no sentido libertador, não somente como os destinatários principais, mas como os próprios sujeitos evangelizadores.
João Paulo II encontrava-se em outra perspectiva. Sentia o cansaço da evangelização em nossos países e buscou animar a Nova Evangelização, ao incentivá-la sob três aspectos: “nova em seu ardor, em seus métodos, em sua expressão". Importa-nos, agora, encontrar a síntese que valorize a tradição de Medellín de enculturação respeitosa das culturas locais. Vale também ouvir o desejo de João Paulo e de Aparecida de que nos entusiasmemos com o encontro pessoal com Cristo para anunciá-lo a todos com novo ardor, novos métodos e expressão, respondendo ao momento e a cultura atual.
Por: Pe. João Batista Libanio, SJ