Nunca me contentei com o pouco. Corro riscos, sinto
medo. Mas sonhos sem riscos trazem conquistas sem méritos. Viver é arriscar-se. Destarte, é em grande parte devido ao sobredito que
aceitei um chamado e estou inteiro para uma experiência passo-a-passo na vida
religiosa. Uma vida construída; uma família constituída. Quero viver minhas
etapas... todas elas. Posto que, não existe o caminho, o caminho se faz ao
caminhar.
E não estou sozinho; aliás, não irei a lugar algum sem os laços de
fraternidade ainda iminentes – meus irmãos. De fato, já dizia Sartre que “o
homem tem consciência da sua existência através do olhar do outro, e
vice-versa”. Tudo isso hoje se torna o meu sonho, parte de meus ideais. E
desejo ir a fundo, prefiro o que é profundo. Não gosto de água com açúcar. E
não estou partindo simplesmente porque quero; antes disso, me vejo sendo levado
por uma Força maior do que eu, e que, portanto, transcende-me de um modo
absurdo. ‘Ele me venceu’.
No fundo, somos todos como Abraão, rumo ao monte
Moriá; sozinhos em nossas escolhas e renúncias, sendo que a escolha de algo é
necessariamente renúncia de outro.
A vida é isso: um constante “trade-off”
entre escolhas e as perdas e ganhos que as acompanham. E ainda, cada atitude é
uma tomada individualmente; somos existentes singulares e ninguém pode tomar
nossos passos, que inclusive estão sempre para serem dados.
Eis o paradoxo da existência: a liberdade que é inata
nos condiciona sempre à tomada de decisões; e muitas vezes não suportamos o
suficiente para sermos autores das mesmas, permitindo assim que a própria vida
e os outros escolham por nós; e de fato, se não cuidarmos a vida leva. Digo com
Kiekegaard que a angústia que me ronda hoje neste peito inquieto é apenas
vertigem da felicidade construída que me aguarda nestes primeiros passos que
dou em busca de uma vida íntegra e iluminada.
O importante de tudo é reconhecer que o peso de se
viver (intensamente) é inevitável. Contudo, devemos erguer a cabeça ao alto, e
acreditar que através das experiências profundas e absurdamente humanas com o
Deus presente no outro – pela gratuidade do "ser-com" – conseguiremos
(re)construir-nos continuamente em direção ao "feliz” e então dizer,
gritar que: A VIDA É BEM MAIS QUE ISSO, E VALE A PENA SER VIVIDA!
Eis que aqui estou!
Fiat voluntas tua!
Frei Leandro Silva-MCR
Janaúba/MG