“O
que é que motiva você a continuar?” Esta foi a pergunta feita por um
mestre espiritual no contexto das deserções ou êxodos na Vida Consagrada
nos últimos tempos. Assistimos, comentamos, censuramos, admiramos,
apoiamos, questionamos… São as várias posturas assumidas diante daqueles
que tomam outros caminhos na consagração religiosa e presbiteral. E
nós? Como temos lidado com nossos desânimos, estresses, desencantos,
decepções, crises?
A pergunta colocada no início do texto
deve ressoar constantemente dentro de nós. “O que é que me faz
continuar? Que motivações há dentro de mim e como as alimento?” Penso
que está aqui a matéria para a formação permanente.
Por vezes restringe-se a formação
permanente a cursos, assembleias, retiros. Estes são elementos da
formação, mas não se reduz a isso. Seria muito pouco. Podemos dizer que
são momentos fortes e formais oferecidos a todo o grupo na busca de
conjunto, de unidade. Mas é pouco.
Se cada um não buscar meios e formas de
cultivar a consagração – tal como a gente está cansado de aconselhar os
casais – através de uma boa leitura espiritual, da lectio divina,
da oração fervorosa, da ascese etc não aguentará o repuxo. Aquela
palavra do grande teólogo Karl Rahner é válida também para nós,
consagrados: “O cristão do futuro ou será místico ou não será cristão”.
Adquirir e cultivar o espírito e os sentimentos de Cristo.
Cencini diz, a propósito deste cultivo:
“Se a vida do padre ou do consagrado não expressa uma vontade constante e
efetiva de conformação progressiva à personalidade do Filho, isso cria
uma contradição de fundo que rompe a unidade e a harmonia interior do
ser humano, e o põe em conflito consigo mesmo, nervoso e enraivecido, ou
deprimido e entediado. De fato, quando o homem se contradiz, não pode
ser feliz, mas sentirá mais ou menos pesada dentro de si uma sensação de
desfalecimento pessoal, de falta de sentido naquilo que faz, de
ineficácia no seu ministério, de incapacidade em chegar ao coração das
pessoas, de tristeza e sutil depressão. Em síntese, se não entra em ação
a formação contínua, a vida será contínua frustração” (Cencini, Formação Permanente, p. 50).
Diz um adágio latino: Non progredi, regredi est.
Quem não cresce, não caminha, não avança no discipulado de Jesus;
recua, regride e se perverte. Aliás, Cencini já o constata: “À ausência
de valores fortes, correspondem valores perversos” (Cencini, o.c., p.
51). É a mediocridade tomando conta do coração humano. É a atitude do
consagrado que faz o mínimo para cumprir as “obrigações religiosas”.
Quem leva vida medíocre já está experimentando aquela frustração que
está dentro do coração de muitos padres e consagrados.
A contração numérica dos membros
congregados e a transgressão de um ou outro religioso não devem ser o
principal motivo de preocupação, mas o estilo indiferente de muitos; a
alegre mediocridade que dá a impressão de ter-se tornado uma espécie de
regra comum. (Cf. Cencini, Formação Permanente, prefácio).
Parece-me que é também a isso que se refere o Anjo do Apocalipse:
“Conheço tuas obras: não és frio nem quente. Oxalá fosses frio ou
quente! Mas, porque és morno, nem frio nem quente, estou para vomitar-te
da minha boca” (Ap 3,15-16).
por: Pe. Aureliano de Moura Lima