Essa pergunta é bastante difícil de
respondê-la. Geralmente para esta questão temos várias respostas.
Pensemos em três motivações: Uma que seria: os jovens veem aos
nossos seminários movidos pelo ideal missionário de levar a Palavra de
Deus a todas as pessoas, povos e regiões. Ainda: se apresentam com
aquele desejo de viver a radicalidade evangélica, testemunhando o Cristo
casto, pobre e obediente. Outra seria: Os jovens chegam com uma
vontade de se santificar, e de fecha-se numa relação com Deus sem
grandes preocupações com o mundo dos empobrecidos. Essa postura seria a
de pensar que a realidade eclesial é o mundo. A terceira seria a
seguinte: Alguns jovens chegam ao seminário sem nenhuma motivação. Veio
por curiosidade. Fez um retiro espiritual, se encantou por esse
seguimento, então bateu a porta do seminário e foi acolhido.
A tentação nossa é de logo perguntar:
Qual dessas três motivações seria a melhor para vida da Igreja e para a
vivência do ministério presbiteral? A pergunta merece ficar sem
resposta, pelo menos por enquanto. Porque na verdade, não importa por
enquanto as motivações que trouxeram os jovens ao seminário. O
importante é que eles estão aqui em nossos seminários. E agora: o que
precisamos fazer? Alimentar suas motivações? Purificá-las? Dar um
sentido mais profundo a elas? Iluminá-las com a luz do Evangelho?
Resignificá-las para edificar uma motivação cristã, comunitária, bíblica
e missionária?
A questão colocada é muito séria.
Ouvimos de muitas pessoas suas insatisfações em relação ao serviço
ministerial de alguns presbíteros. Que ao contrário, daquilo que o povo
de Deus espera, muitos sacerdotes vivem para eles mesmos e não para o
seu rebanho. Lembro-me das palavras fortes de Santo Agostinho em seu
sermão sobre os pastores. Assim diz o bispo de Hipona: “[...]
aos pastores que se apascentam a si mesmos, não às ovelhas, diz a
palavra divina que não adula a ninguém: “Eis que bebeis o leite e vos
cobris com a lã. Matais as mais gordas e não apascentais minhas ovelhas.
Não fortalecestes a fraca; não curastes a doente; não pensastes a
ferida, não reconduzistes a desgarrada e não fostes em busca da que se
perdera; tratastes com dureza a forte. E minhas ovelhas se dispersaram,
por não haver pastor” (Ez 34,3-5). Começa por dizer que é que apreciam e
que descuidam aqueles pastores que se apascentam a si, não às ovelhas.
Que apreciam? “Bebeis o leite, cobri-vos com a lã”. Diz o apóstolo: quem
planta uma vinha e não se alimenta do seu fruto? Quem apascenta um
rebanho e não se serve do leite?” Entendemos por leite do rebanho tudo
quanto o povo de Deus dá ao bispo para sustento da vida terrena. Era o
que queria dizer o Apóstolo com as palavras citadas”.
No subterrâneo da denuncia do povo sobre
a vida abastarda de alguns padres e esse trecho do sermão de Santo
Agostinho voltamos ao nosso tema: Quais foram as motivações que
trouxeram os jovens até os nossos seminários? Por que esses jovens se
tornaram presbíteros? Com quais motivações eles chegaram para a vida
presbiteral? O que aconteceu ao longo do seu processo formativo?
Penso que uma resposta exata a questão
não temos. Pe. Dalton Barros, CSsR, falando sobre motivação vocacional
na acolhida aos jovens em nossos seminários, soltou um pensamento que
julgo iluminador nesta questão. Assim se expressou: “Não importa com
que cavalo o jovem vem montado até a nossa congregação. O importante é
que o processo de formação saiba ajudar o jovem a descer do seu cavalo
para montar noutro cavalo (o ideal, o carisma e a espiritualidade da
família Religiosa)”.
A imagem usada pelo Pe. Dalton é
bastante interessante. O cavalo são as motivações e essas podem ser
diversas, fortes, fracas, com sentido ou sem sentido. O jovem traz essa
motivação marcado pelo seu espaço familiar, cultural, religioso,
político e econômico. Por outro lado, cabe a Igreja, os formadores
trabalharem essas motivações com o estilo de vocação que eles querem
viver.
Pegando o pensamento do Pe. Dalton a
formação para a vida sacerdotal deveria ser um processo de descida e
subida, ou subida e descida. Em outras palavras, essa imagem nos lembra
que o processo de formação deveria ajudar o jovem a fazer o seguinte
movimento: “descer do cavalo que trouxe para montar noutro cavalo”
a partir da formação que recebeu. Esse movimento poderia ser semelhante
à kenoses de Cristo (cf. Fl 2,6-11), ou ao processo de conhecimento de
Cristo, segundo são Paulo que exige renúncia, deixar pra traz tudo,
para encontrar o diamante precioso, Jesus Cristo (Fl 3,8-14). Quando
esse processo acontece com abertura e verdade as motivações sólidas
permanecem, ganham força e sentido e as sem solidez desaparecem, porque
outras tomaram seu lugar.
Fonte: Jornal O Lutador, 11-20/08/2013, p. 05.