30/06/2016

Com que motivações os jovens chegam em nossos seminários?

     
 
Essa pergunta é bastante difícil de respondê-la. Geralmente para esta questão temos várias respostas. Pensemos em três motivações: Uma que seria: os jovens veem aos nossos seminários movidos pelo ideal missionário de levar a Palavra de Deus a todas as pessoas, povos e regiões. Ainda: se apresentam com aquele desejo de viver a radicalidade evangélica, testemunhando o Cristo casto, pobre e obediente. Outra seria: Os jovens chegam com uma vontade de se santificar, e de fecha-se numa relação com Deus sem grandes preocupações com o mundo dos empobrecidos. Essa postura seria a de pensar que a realidade eclesial é o mundo. A terceira seria a seguinte: Alguns jovens chegam ao seminário sem nenhuma motivação. Veio por curiosidade. Fez um retiro espiritual, se encantou por esse seguimento, então bateu a porta do seminário e foi acolhido.
 
      A tentação nossa é de logo perguntar: Qual dessas três motivações seria a melhor para vida da Igreja e para a vivência do ministério presbiteral? A pergunta merece ficar sem resposta, pelo menos por enquanto. Porque na verdade, não importa por enquanto as motivações que trouxeram os jovens ao seminário. O importante é que eles estão aqui em nossos seminários. E agora: o que precisamos fazer? Alimentar suas motivações? Purificá-las? Dar um sentido mais profundo a elas? Iluminá-las com a luz do Evangelho? Resignificá-las para edificar uma motivação cristã, comunitária, bíblica e missionária?
    A questão colocada é muito séria. Ouvimos de muitas pessoas suas insatisfações em relação ao serviço ministerial de alguns presbíteros. Que ao contrário, daquilo que o povo de Deus espera, muitos sacerdotes vivem para eles mesmos e não para o seu rebanho. Lembro-me das palavras fortes de Santo Agostinho em seu sermão sobre os pastores.  Assim diz o bispo de Hipona: [...] aos pastores que se apascentam a si mesmos, não às ovelhas, diz a palavra divina que não adula a ninguém: “Eis que bebeis o leite e vos cobris com a lã. Matais as mais gordas e não apascentais minhas ovelhas. Não fortalecestes a fraca; não curastes a doente; não pensastes a ferida, não reconduzistes a desgarrada e não fostes em busca da que se perdera; tratastes com dureza a forte. E minhas ovelhas se dispersaram, por não haver pastor” (Ez 34,3-5). Começa por dizer que é que apreciam e que descuidam aqueles pastores que se apascentam a si, não às ovelhas. Que apreciam? “Bebeis o leite, cobri-vos com a lã”. Diz o apóstolo: quem planta uma vinha e não se alimenta do seu fruto? Quem apascenta um rebanho e não se serve do leite?” Entendemos por leite do rebanho tudo quanto o povo de Deus dá ao bispo para sustento da vida terrena. Era o que queria dizer o Apóstolo com as palavras citadas”.
    No subterrâneo da denuncia do povo sobre a vida abastarda de alguns padres e esse trecho do sermão de Santo Agostinho voltamos ao nosso tema: Quais foram as motivações que trouxeram os jovens até os nossos seminários? Por que esses jovens se tornaram presbíteros? Com quais motivações eles chegaram para a vida presbiteral? O que aconteceu ao longo do seu processo formativo?
Penso que uma resposta exata a questão não temos. Pe. Dalton Barros, CSsR, falando sobre motivação vocacional na acolhida aos jovens em nossos seminários, soltou um pensamento que julgo iluminador nesta questão. Assim se expressou: “Não importa com que cavalo o jovem vem montado até a nossa congregação. O importante é que o processo de formação saiba ajudar o jovem a descer do seu cavalo para montar noutro cavalo (o ideal, o carisma e a espiritualidade da família Religiosa)”.
    A imagem usada pelo Pe. Dalton é bastante interessante. O cavalo são as motivações e essas podem ser diversas, fortes, fracas, com sentido ou sem sentido. O jovem traz essa motivação marcado pelo seu espaço familiar, cultural, religioso, político e econômico. Por outro lado, cabe a Igreja, os formadores trabalharem essas motivações com o estilo de vocação que eles querem viver.
      Pegando o pensamento do Pe. Dalton a formação para a vida sacerdotal deveria ser um processo de descida e subida, ou subida e descida. Em outras palavras, essa  imagem nos lembra que o processo de formação deveria ajudar o jovem a fazer o seguinte movimento: “descer do cavalo que trouxe para montar noutro cavalo” a partir da formação que recebeu. Esse movimento poderia ser semelhante à  kenoses de Cristo (cf. Fl 2,6-11), ou ao processo de conhecimento de Cristo, segundo são Paulo que exige renúncia, deixar pra traz tudo, para encontrar o diamante precioso, Jesus Cristo (Fl 3,8-14). Quando esse processo acontece com abertura e verdade as motivações sólidas permanecem, ganham força e sentido e as sem solidez desaparecem, porque outras tomaram seu lugar.

Fonte: Jornal O Lutador, 11-20/08/2013, p. 05.