17/08/2016

Vocação: Para discernir o mistério

Para discernir com autenticidade o mistério existe um lugar definido, uma morada onde devemos levar a frente o nosso olhar: esse lugar é a própria história do indivíduo. Esta história representa, por tanto, o primeiro critério de discernimento de uma vocação, tanto para o animador quanto para o jovem que está em processo de discernimento.
 
A vocação é a morada do mistério. Neste caso, o trabalho fundamental do orientador é que saiba "ler" a história da pessoa. A leitura implica, inicialmente, o conhecimento da vida passada do jovem, começando pelos dados anamnésicos de base, até poder articular na sua totalidade a história pessoal do jovem. Isto se refere à exigência imposta ao animador, no sentido, de que ele tenha uma informação mais completa possível sobre o passado da pessoa, sobre suas relações e a qualidade delas na família de origem, as várias experiências de socialização e de relação interpessoal, escolaridade, a qualidade da experiência religiosa, etc.
Além disso, o mais importante, com tudo, é a capacidade do animador para se relacionar com a situação presente do jovem, com suas perguntas explicitas ou inexplícitas sobre a vida. Assim, diríamos que seria preciso estabelecer uma relação de reciprocidade interpretativa ou um circulo hermenêutico entre o presente e o passado do jovem, pois um ilumina o outro e volta-se o passado decifrável à luz do presente, e vice-versa.
Para o animador vocacional, a experiência de vida do jovem deve ser a chave interpretativa, o fundo hermenêutico do desejo e do anseio, da insatisfação, de sua procura atual, expressada como tal. A condição decisiva para o autêntico acompanhamento pessoal é que o processo pedagógico consiga abranger a pergunta, a luta, os anseios que constituem o desafio real, ou seja, aquele que tem raízes concretas e atuais na história do individuo, e que muitas vezes determina os problemas e desafios do presente, são condicionantes para as decisões no futuro.
Ora, não basta que o orientador tenha feito essa leitura. Porque é o próprio jovem que deve aprender a fazer a leitura da sua vida passada. Neste ponto, provavelmente, o candidato deverá superar algumas resistências como a presunção. Não é uma presunção feita de orgulho e autossuficiência, mas é aquela presunção sutil de quem pensa que já sabe tudo, que já se conhece muito bem, e talvez, já conhece tudo sobre Deus. De quem presume ter identificado os lugares e momentos da presença divina na própria vida, talvez restringindo algumas situações clássicas.
 
O jovem deve entender que há na sua vida uma presença de Deus que ainda não conhece, e que essa presença se faz sentir todos os dias da sua existência, porque cada dia está criado pelo Senhor, cada dia tem uma Teofania diferente. É essa uma verdade preciosa que deve ser entendida e sempre lembrada, como se fosse uma palavra que Deus dirige à pessoa e na qual se ressume o sentido de sua vida.
É uma experiência muito saudável deixar-se surpreender por Deus dia-a-dia. Assim mesmo, é bom o sacrifício para descobrir essa Teofania por trás dos episódios da própria vida, escrevê-lo se fosse possível. Porque o escrito sempre exige a ser claro e concreto, ajuda a dar maior precisão aos acontecimentos vividos, fixa de modo explicito conclusões e interrogações que de outro modo ficariam perdidas. O escrito permite-nos que lembremos e revivamos as luzes de certos momentos especiais da nossa vida.
Enfim, o jovem deve descobrir que ele pode falar de Deus simplesmente reportando-se à própria história, e não apenas com as noções que ele aprendeu na escola ou com as histórias dos outros. Essa presença radical de Deus na própria história pessoal deverá permitir-lhe constatar o bem e o amor recebido, para decidir e dar-lhe uma resposta responsável.
Por: Carlos Eduardo e Isaac Segovia