Para discernir com autenticidade o mistério
existe um lugar definido, uma morada onde devemos levar a frente o nosso olhar:
esse lugar é a própria história do
indivíduo. Esta história representa, por tanto, o primeiro critério de
discernimento de uma vocação, tanto para o animador quanto para o jovem que
está em processo de discernimento.
A vocação é a morada do mistério. Neste caso,
o trabalho fundamental do orientador é que saiba "ler" a história da
pessoa. A leitura implica, inicialmente, o conhecimento da vida passada do
jovem, começando pelos dados anamnésicos de base, até poder articular na sua
totalidade a história pessoal do jovem. Isto se refere à exigência imposta ao
animador, no sentido, de que ele tenha uma informação mais completa possível
sobre o passado da pessoa, sobre suas relações e a qualidade delas na família
de origem, as várias experiências de socialização e de relação interpessoal,
escolaridade, a qualidade da experiência religiosa, etc.
Além disso, o mais importante, com tudo, é a
capacidade do animador para se relacionar com a situação presente do jovem, com
suas perguntas explicitas ou inexplícitas sobre a vida. Assim, diríamos que
seria preciso estabelecer uma relação de reciprocidade interpretativa ou um
circulo hermenêutico entre o presente e o passado do jovem, pois um ilumina o
outro e volta-se o passado decifrável à luz do presente, e vice-versa.
Para o animador vocacional, a experiência de
vida do jovem deve ser a chave interpretativa, o fundo hermenêutico do desejo e
do anseio, da insatisfação, de sua procura atual,
expressada como tal. A condição decisiva para o autêntico acompanhamento
pessoal é que o processo pedagógico consiga abranger a pergunta, a luta, os
anseios que constituem o desafio real, ou seja, aquele que tem raízes concretas
e atuais na história do individuo, e que muitas vezes determina os problemas e
desafios do presente, são condicionantes para as decisões no futuro.
Ora, não basta que o orientador tenha feito
essa leitura. Porque é o próprio jovem que deve aprender a fazer a leitura da
sua vida passada. Neste ponto, provavelmente, o candidato deverá superar
algumas resistências como a presunção. Não é uma presunção feita de orgulho e
autossuficiência, mas é aquela presunção sutil de quem pensa que já sabe tudo,
que já se conhece muito bem, e talvez, já conhece tudo sobre Deus. De quem
presume ter identificado os lugares e momentos da presença divina na própria
vida, talvez restringindo algumas situações clássicas.
O jovem deve entender que há na sua vida uma
presença de Deus que ainda não conhece, e que essa presença se faz sentir todos
os dias da sua existência, porque cada dia está criado pelo Senhor, cada dia
tem uma Teofania diferente. É essa uma verdade preciosa que deve ser entendida
e sempre lembrada, como se fosse uma palavra que Deus dirige à pessoa e na qual
se ressume o sentido de sua vida.
É uma experiência muito saudável deixar-se
surpreender por Deus dia-a-dia. Assim mesmo, é bom o sacrifício para descobrir
essa Teofania por trás dos episódios da própria vida, escrevê-lo se fosse
possível. Porque o escrito sempre exige a ser claro e concreto, ajuda a dar
maior precisão aos acontecimentos vividos, fixa de modo explicito conclusões e
interrogações que de outro modo ficariam perdidas. O escrito permite-nos que
lembremos e revivamos as luzes de certos momentos especiais da nossa vida.
Enfim, o jovem deve descobrir que ele pode
falar de Deus simplesmente reportando-se à própria história, e não apenas com
as noções que ele aprendeu na escola ou com as histórias dos outros. Essa
presença radical de Deus na própria história pessoal deverá permitir-lhe constatar
o bem e o amor recebido, para decidir e dar-lhe uma resposta responsável.
Por: Carlos Eduardo e Isaac Segovia
Por: Carlos Eduardo e Isaac Segovia