Hoje, cada vez mais, se não raro, é muito difícil ver essa qualidade de modo comum e usual por aí. O mundo moderno é muito tecnicista e barulhento, de mudanças e transformações rápidas. O ser humano nesse contexto é quase que um ativista, de tanta tarefa que realiza, de modo que parar, contemplar, sentir as coisas, o mundo a sua volta, é algo sem graça e fugaz. Não há tempo! Todo mundo vive dizendo que não tem tempo. Sempre há “falta de tempo!”
Em séculos remotos essa capacidade de se admirar, de se encantar, despontava em um conjunto de expressões com as quais se emitia um juízo: Lindas poesias, obras de artes, frases, pensamentos, musicas, desenhos etc. essas coisas foram frutos que nasceram dessa capacidade de que falamos.
O ser humano tem capacidades e qualidades das quais, uma delas é a capacidade da admiração, de admirar. A capacidade de se deixar envolver e de expressar ternura, causando-lhe emoções e sentimentos nobres.A contemplação (a capacidade de admirar, e de se deixar envolver por aquilo que se admira) é algo conatural ao ser humano. Uma flor, um pôr-do-sol, uma música, uma letra musical, uma melodia, um objeto a esmo, a natureza, um ser vivo, um toque, uma foto, um gesto, são tantas e tantas as situações sutis que podem fazer surgir ou chamar à atenção de um olhar contemplativo, e que é motivo de admiração e ternura, e que o predispõe ao encanto e ação de graças.
Nas Sagradas Escrituras, os Salmos são cânticos que revelam em seu conteúdo o olhar contemplativo de seu autor. Eles são uma escola de contemplação, uma escola onde aprendemos a contemplar a vida, o contraste entre o bonito e o feio, entre a arte e o seu artista. Podemos aprender muito nessa escola e, um desses aprendizados certamente diz respeito à vida em suas sutilezas, e aos mistérios ocultos a um olhar despercebido.
O ser humano precisa urgentemente aprender a contemplar. Pois, parece que perdeu essa capacidade, e até, parece que ela ficou apenas nos círculos religiosos. Hoje, as pessoas vivem agitadas, estão mergulhadas nas suas tarefas cotidianas como que escravos e mecânicos, vivem com medo do silencio e do encontro consigo mesmas. É preciso voltar a aquieta-se, a interioriza-se, pois aí encontrará, certamente de novo, a capacidade de contemplar.
Cada vez mais constato entre as pessoas das quais convivo, que é urgente voltar às raízes da contemplação, do exercício da capacidade de admirar, de se extasiar, de gastar tempo com pequenos gestos, pequenos e singelos olhares, com leves e passageiros sorrisos marotos. São essas pequenas sutilezas que nos permite nos humanizar, nos enternecer, nos interiorizar e ter contato com aquelas energias benfazejas do sagrado sopro existencial de nossas vidas e da vida universal.
Com um olhar e capacidade de admirar e contemplar é possível enxergar a alma, enxergar Deus – o essencial primeiro motivador e motivação de toda a existencialidade.
Precisamos requerer de novo nossa capacidade de admirar, de contemplar e penso que cada um há de achar o seu caminho, o meu é sem dúvidas aquilo que propositadamente denominamos de oração.
Não qualquer oração, mas aquela que é primordial num relacionamento e que nos possibilita essas e tantas coisas mais…