30/06/2016

Juventude nos tempos de hoje



Em meio a toda beleza, força, encanto e exuberância da juventude, o jovem de hoje está rodeado de, pelo menos, três medos: diante do desemprego, o “medo de sobrar”; diante da violência, o “medo de morrer antes da hora”; diante do mundo intelectual e da tecnologia, o “medo de ser desconectado”. A pessoa com medo fica meio desorientada e em geral, se encolhe, agarrando-se a qualquer coisa que está à sua volta.
A Igreja volta assim sua atenção para os jovens. Pois, apesar de ter toda uma história de presença viva e atuante junto à juventude, a Igreja reconhece que, em nossos dias, nem sempre é o jovem que se afasta da Igreja, mas a Igreja é que vem se afastando dos jovens. A linguagem da Igreja, os seus métodos, sua liturgia, apesar dos esforços de muitos, não conseguem “falar ao coração dos jovens”. Em alguns casos, o comodismo de uma “pastoral de manutenção” foi nos afastando do mundo dos jovens e dos jovens concretamente.
Precisamos ser mais próximos dos jovens e ajudá-los a vencer estes medos. Para isso, conhecer os jovens e seu “mundo” é condição prévia para evangelizá-los, bem como é o grande desafio do Século XXI.  Há uma variedade enorme de comportamentos e situações que dificultam delinear o perfil da juventude. Além disso, estamos na era da velocidade, tudo é muito rápido (fala-se de 50 anos em 5). Ocorrem profundas mudanças históricas e culturais. As respostas que temos não respondem às novas questões. É preciso levar em conta as mudanças geradas pela chamada Modernidade e pela Pós-Modernidade que convivem juntas e juntas modelam o novo jeito de ser e de agir de nossa juventude.
A Modernidade representa uma forma de organizar a vida que acentua a razão, o pensamento: “Penso, logo, existo!” (R. Descartes). A razão tem respostas para tudo e ela é a raiz da liberdade, da igualdade, da fraternidade. Os jovens, na medida em que avançam nos estudos, sobretudo na universidade são fascinados pelas ciências e tecnologias, mas também questionados em sua fé. Muitas vezes lhe passam idéias distorcidas sobre a Igreja e a religião. E, não raro, muitos se afastam da participação na caminhada da comunidade.
A Pós-Modernidade representa outra forma de organizar a vida que acentua o sentimento, as emoções: “Sinto, logo, existo!” O avanço da tecnologia, a grande velocidade e volume de informações provocam mudanças nos comportamentos, na linguagem, no jeito de ser e de agir das pessoas, sobretudo dos jovens. A Pós-Modernidade acentua a subjetividade (= o eu de cada um) “sou visto, logo, existo!”. Assim, a preocupação com os pobres e necessitados, tende a ser substituída pelas necessidades pessoais. E a acentuação exagerada sobre as emoções pode levar a um esvaziamento intelectual, a uma fuga da consciência crítica (“tô nem aí…”) e fuga do compromisso de transformar a sociedade. A vida gira em torno do superficial e têm-se dificuldade de decisões firmes e duradouras. Há tendência para mergulhar no mundo das drogas, da sexualidade desintegrada e do consumismo exagerado. Também há grande espaço para buscas e atitudes fundamentalistas (veja o avanço das igrejas neopentecostais, marcadamente fundamentalistas).
É preciso reconhecer que a Modernidade e Pós-Modernidade – estas duas formas de organizar a vida – caminham juntas em nosso tempo. A modernidade nos leva a buscar uma evangelização mais profunda, capaz de ajudar nossos jovens a ter respostas aos questionamentos apresentados pelas ciências. Para a devida vivência da fé, é preciso buscar o equilíbrio entre o racional e o emocional, caminhar para uma formação integral. A Igreja tem a missão de ajudar no diálogo entre fé e razão que se “ajudam mutuamente”. É preciso evangelizar os formadores de opinião pública e, entre outras ações, organizar uma eficiente pastoral estudantil, nas escolas, colégios e universidades com pessoas devidamente preparadas; despertar o espírito missionário para que os jovens estudantes sejam apóstolos de outros jovens e participem de projetos sociais junto aos mais pobres colocando seu saber intelectual a serviço da transformação social: pré vestibular alternativo; projetos de geração de renda, de saúde, de moradia, de alfabetização (cf. Doc 85 da CNBB PP. 108-113).
A juventude são os filhos e filhas de Deus, na fase mais bonita da vida. É um tempo da graça (Kairós), tempo da ação de Deus. Não é sem motivo que, em sua vinda ao Brasil para a Jornada Mundial da Juventude, o Papa Francisco recomendou aos jovens:  “Ide e fazei discípulos entre todas as nações”. “Ide, sem medo, para servir”. “Jesus nos trata como irmãos, amigos, Ele envia e acompanha a todos”. “Não tenham medo de levar Cristo a todos os ambientes”. Na sequência, o Papa fez referência às periferias existenciais como lugares de evangelização e incentivou o compromisso da Missão Continental promovido pelos bispos da América Latina e afirmou, com ênfase: “A Igreja precisa de vocês!”. Também deu aos jovens a certeza de poderem contar com a companhia da Igreja frente ao desafio da evangelização.

Fonte: Jornal O Lutador, ed. 3833, p. 10