Em meio a toda beleza,
força, encanto e exuberância da juventude, o jovem de hoje está rodeado
de, pelo menos, três medos: diante do desemprego, o “medo de sobrar”; diante da violência, o “medo de morrer antes da hora”; diante do mundo intelectual e da tecnologia, o “medo de ser desconectado”. A pessoa com medo fica meio desorientada e em geral, se encolhe, agarrando-se a qualquer coisa que está à sua volta.
A Igreja volta assim sua
atenção para os jovens. Pois, apesar de ter toda uma história de
presença viva e atuante junto à juventude, a Igreja reconhece que, em
nossos dias, nem sempre é o jovem que se afasta da Igreja, mas a Igreja é
que vem se afastando dos jovens. A linguagem da Igreja, os seus
métodos, sua liturgia, apesar dos esforços de muitos, não conseguem
“falar ao coração dos jovens”. Em alguns casos, o comodismo de uma
“pastoral de manutenção” foi nos afastando do mundo dos jovens e dos
jovens concretamente.
Precisamos ser mais
próximos dos jovens e ajudá-los a vencer estes medos. Para isso,
conhecer os jovens e seu “mundo” é condição prévia para evangelizá-los,
bem como é o grande desafio do Século XXI. Há uma variedade enorme de
comportamentos e situações que dificultam delinear o perfil da
juventude. Além disso, estamos na era da velocidade, tudo é muito rápido
(fala-se de 50 anos em 5). Ocorrem profundas mudanças históricas e
culturais. As respostas que temos não respondem às novas questões. É
preciso levar em conta as mudanças geradas pela chamada Modernidade e
pela Pós-Modernidade que convivem juntas e juntas modelam o novo jeito
de ser e de agir de nossa juventude.
A Modernidade representa uma forma de organizar a vida que acentua a razão, o pensamento: “Penso, logo, existo!” (R.
Descartes). A razão tem respostas para tudo e ela é a raiz da
liberdade, da igualdade, da fraternidade. Os jovens, na medida em que
avançam nos estudos, sobretudo na universidade são fascinados pelas
ciências e tecnologias, mas também questionados em sua fé. Muitas vezes
lhe passam idéias distorcidas sobre a Igreja e a religião. E, não raro,
muitos se afastam da participação na caminhada da comunidade.
A Pós-Modernidade representa outra forma de organizar a vida que acentua o sentimento, as emoções: “Sinto, logo, existo!”
O avanço da tecnologia, a grande velocidade e volume de informações
provocam mudanças nos comportamentos, na linguagem, no jeito de ser e de
agir das pessoas, sobretudo dos jovens. A Pós-Modernidade acentua a
subjetividade (= o eu de cada um) “sou visto, logo, existo!”.
Assim, a preocupação com os pobres e necessitados, tende a ser
substituída pelas necessidades pessoais. E a acentuação exagerada sobre
as emoções pode levar a um esvaziamento intelectual, a uma fuga da
consciência crítica (“tô nem aí…”) e fuga do compromisso de
transformar a sociedade. A vida gira em torno do superficial e têm-se
dificuldade de decisões firmes e duradouras. Há tendência para mergulhar
no mundo das drogas, da sexualidade desintegrada e do consumismo
exagerado. Também há grande espaço para buscas e atitudes
fundamentalistas (veja o avanço das igrejas neopentecostais,
marcadamente fundamentalistas).
É preciso reconhecer que a
Modernidade e Pós-Modernidade – estas duas formas de organizar a vida –
caminham juntas em nosso tempo. A modernidade nos leva a buscar uma
evangelização mais profunda, capaz de ajudar nossos jovens a ter
respostas aos questionamentos apresentados pelas ciências. Para a devida
vivência da fé, é preciso buscar o equilíbrio entre o racional e o
emocional, caminhar para uma formação integral. A Igreja tem a missão de
ajudar no diálogo entre fé e razão que se “ajudam mutuamente”. É
preciso evangelizar os formadores de opinião pública e, entre outras
ações, organizar uma eficiente pastoral estudantil, nas escolas,
colégios e universidades com pessoas devidamente preparadas; despertar o
espírito missionário para que os jovens estudantes sejam apóstolos de
outros jovens e participem de projetos sociais junto aos mais pobres
colocando seu saber intelectual a serviço da transformação social: pré
vestibular alternativo; projetos de geração de renda, de saúde, de
moradia, de alfabetização (cf. Doc 85 da CNBB PP. 108-113).
A juventude são os filhos e
filhas de Deus, na fase mais bonita da vida. É um tempo da graça
(Kairós), tempo da ação de Deus. Não é sem motivo que, em sua vinda ao
Brasil para a Jornada Mundial da Juventude, o Papa Francisco recomendou
aos jovens: “Ide e fazei discípulos entre todas as nações”. “Ide, sem
medo, para servir”. “Jesus nos trata como irmãos, amigos, Ele envia e
acompanha a todos”. “Não tenham medo de levar Cristo a todos os
ambientes”. Na sequência, o Papa fez referência às periferias
existenciais como lugares de evangelização e incentivou o compromisso da
Missão Continental promovido pelos bispos da América Latina e afirmou,
com ênfase: “A Igreja precisa de vocês!”. Também deu aos jovens a
certeza de poderem contar com a companhia da Igreja frente ao desafio da
evangelização.
Fonte: Jornal O Lutador, ed. 3833, p. 10