21/09/2012

Pequena História da Vida Consagrada - Parte I

Pequena História da Vida Consagrada - Parte I

"A vida consagrada, profundamente arraigada nos exemplos e ensinamentos de Cristo Senhor, é um dom de Deus Pai à sua Igreja, por meio do Espirito. Através da profissão dos conselhos evangélicos, os traços característicos de Jesus - casto, pobre e obediente - adquirem uma típica e permanente "visibilidade" no meio do mundo, e o olhar dos fiéis é atraído para aquele mistério do Reino de Deus que já atua na história, mas aguarda a sua plena realização nos céus.
Ao longo dos séculos, nunca faltaram homens e mulheres que, dóceis ao apelo do Pai e à moção do Espírito, escolheram este caminho de especial seguimento de Cristo, para se dedicarem a ele de coração "indiviso". Também eles deixaram tudo, como os Apóstolos, para estar com Cristo e colocar-se, com ele, a serviço de Deus e dos irmãos. Contribuíram assim para manifestar o mistério e a missão da Igreja, graças aos múltiplos carismas de vida espiritual e apostólica que o Espírito Santo lhes distribuía, e deste modo concorreram também para renovar a sociedade.
O papel da vida consagrada na Igreja é tão notável que decidi convocar um Sínodo para aprofundar o seu significado e as perspectivas em ordem ao novo milênio, já iminente.
Cientes, como estamos todos, da riqueza que constitui, para a comunidade eclesial, o dom da vida consagrada na variedade dos seus carismas e das instituições, juntos damos graças a Deus pelas Ordens e Institutos religiosos dedicados à contemplação ou às obras de apostolado, pelas Sociedades de Vida Apostólica, pelas Institutos Seculares, e pelos outros grupos de consagrados nas novas formas de vida comunitária e evangélica, como também por todos aqueles que, o segredo do seu coração, se dedicam a Deus por uma especial consagração.
No Sínodo, pôde-se constatar a expansão universal da vida consagrada, tornando-se presente nas Igrejas de toda a terra. Ela estimula e acompanha o avanço da evangelização nas diversas regiões do mundo, onde não apenas são acolhidos com gratidão os Institutos vindos de fora, mas constituem-se também novos e com grande variedade de formas e expressões.
E se os Institutos de vida consagrada, em algumas regiões da terra, parecem atravessar momentos de dificuldade, em outros prosperam com vigor surpreendente, demonstrando que a opção de total doação a Deus em Cristo não é de forma alguma incompatível com a cultura e a história de cada povo. E não prospera só dentro da Igreja Católica; na verdade, a vida consagrada acha-se particularmente viva no monarquismo das Igrejas ortodoxas, como rasgo essencial da sua fisionomia, e está começando ou ressurgindo nas Igrejas e Comunidades eclesiais nascidas da Reforma, como sinal de uma graça comum dos discípulos de Cristo.
A presença universal da vida consagrada e o caracter evangélico do seu testemunho provam, com toda a evidência - caso isso fosse ainda necessário -, que ela não é uma realidade isolada e marginal, mas diz respeito a toda Igreja. No Sínodo, os Bispos confirmaram por diversas vezes: "é algo que nos diz respeito". Na verdade, a vida consagrada está colocada mesmo no coração da Igreja, como elemento decisivo para a sua missão, visto que exprime a íntima natureza da vocação cristã "e a tensão da Igreja-Esposa para a união com o Esposo. Diversas vezes se afirmou, no Sínodo, que a função de ajuda e apoio exercida pela vida consagrada à Igreja não se restringe aos tempos passados, mas continua sendo um dom precioso e necessário também no presente e para o futuro do Povo de Deus, porque pertence à sua vinda, santidade e missão.
Como não recordar, cheios de gratidão ao Espírito, a abundância das formas históricas de vida consagrada, por ele suscitadas e continuamente manifestadas no tecido eclesial? Assemelham-se a uma planta com muitos ramos, que assenta as suas raízes no Evangelho e produz frutos abundantes em cada estação da Igreja. Que riqueza extraordinária! Eu mesmo. No final do Sínodo, senti a necessidade de sublinhar este elemento constante na história da Igreja.
O Sínodo recordou esta obra incessante do Espírito Santo, que vai explanando ao longo dos séculos, as riquezas da prática dos conselhos evangélicos através dos múltiplos carismas, e que, também por este caminho, torna o mistério de Cristo perenemente presente na Igreja e no mundo, no tempo e no espaço (JOÃO PAULO II, Vita Consecrata).
"Desde os começos da Igreja Houve homens e mulheres que, pela prática dos conselhos evangélicos, propuseram-se a seguir a Cristo com mais liberdade e imitá-lo mais estreitamente e, cada um a seu modo, levaram vida consagrada a Deus. Dentre eles, muitos, pela inspiração do Espirito Santo, viveram vida solitária ou fundaram famílias religiosas que a Igreja recebeu e aprovou de bom grado com sua autoridade. Daí nasceu, por divina providência, uma admirável variedade de grupos religiosos, a qual muito contribuiu para que a Igreja não apenas esteja aparelhada para toda boa obra e organizada para as atividades do seu ministério em vista da edificação do Corpo de Cristo, mas apareça também ornamentada com os vários dons de seus filhos, como uma esposa adornada para o seu esposo e por ela se manifeste a multiforme sabedoria de Deus" (Vaticano II,, PC 1). 
Pequena História da Vida Consagrada - Parte II

 
As Virgens Consagradas
Esta constitui a primeira forma de vida feminina especialmente consagrada. Sua Origem data dos tempos apostólicos, onde inúmeras jovens ofertavam-se inteiramente ao Senhor na consagração voluntária e perpétua de sua virgindade.
Através das virgens consagradas o Espirito de Deus testemunha no interior da Igreja Primitiva, o início de um novo tempo, do tempo do Reino dos Céus. Pelo testemunho daquelas mulheres que se consagravam incondicionalmente a Deus, percebia-se que nascia a partir de Cristo, uma nova mentalidade, a mentalidade do Reino de Deus, o voltar-se para as coisas do alto. Tal mentalidade era diferente daquela do judaísmo, fundada na terra e na posteridade.
As virgens consagradas constituem uma imagem escatológica especial da Esposa celeste e da vida futura, quando finalmente, a Igreja viverá em plenitude o seu amor por Cristo Esposo.
O Eremitismo
No Séc. III a vida consagrada tomou a forma eremítica. Esta foi a primeira forma de vida consagrada masculina. Alguns historiadores encontram em data anterior a vida eremítica, uma certa forma de vida organizada, formada pelos ascetas cristãos e denominada "monacato urbano".
A vida eremítica teve expressões de grande generosidade: os eremitas retiravam-se para o deserto, viviam na solidão e no silêncio, na oração e na penitência, não deixando de lado o trabalho manual e a direção espiritual, muitas vezes feita através de cartas que são verdadeiros tratados de teologia ascética e mística.
Além de uma autêntica vida de oração e penitência, oferecida em favor de Igreja, os eremitas ou "padres d deserto" contribuíram em muito com a teologia e filosofia, através de Escritos, que ainda hoje enriqueceram a doutrina cristã. A vida eremítica era ainda forte grito profético no interior da Igreja, quando esta, após os tempos de perseguição se unia às forças e poderes do Império.
Santo Antão (251-356 d.C) é considerado o patriarca da vida eremítica". Filho de família rica, ouviu o apelo do Senhor proclamado na igreja através da leitura da Sagrada Escritura, e resolveu deixar tudo, retirando-se para o deserto do Egito. Sua vida, escrita por Santo Atanásio, no século IV, exerceu grande influência sobre as gerações posteriores.
Os homens e mulheres eremitas, testemunham através da separação interior e exterior do mundo o caráter provisório do tempo presente, e pelo jejum e pela penitência atestam que o homem não vive sé de pão, mas da Palavra de Deus. Uma vida Assim "no deserto" é convite aos indivíduos e á própria comunidade eclesial para nunca perderem de vista a vocação suprema, que é estar sempre com o Senhor.
O Cenobitismo ou Monaquismo Organizado
Inicialmente devemos afirmar que a origem do monacato organizado permanece em discreta penumbra. Segundo a maioria dos historiados eclesiais, o cenobitismo tem como berço o eremitismo. Aos poucos a vida eremítica foi cedendo lugar à vida cenobitica (comunitária). O cenobitismo ou monaquismo organizado apresentava suas vantagens: a vida comunitária, com ocasiões freqüentes de se praticar a caridade; a presença de um superior (abade), que governava e controlava a comunidade, suas atitudes e comportamentos; a Regra, que regulamentava a vida dos monges na oração, no trabalho, no vestuário, na alimentação, no estudo.
A vida e a espiritualidade cenobita era muito semelhante da eremita (oração, ascese, trabalho manual, direção espiritual), porém, alguns fatores faziam a diferença: a vida comunitária, o abade, a regra e a dedicação aos estudos.
Vale destacar que a "comunidade" para os cenobitas não é simples meio de serviço da perfeição evangélica, mas pertence ao projeto mesmo do "seguimento de Cristo".
São Pacômio (346 d.C) foi o primeiro organizador da vida cenobítica (koinonia). O primeiro mosteiro data de 320 e foi fundado por São Pacômio em Tabenisi, a 575 Km ao sul da moderna cidade do Cairo. O oriente foi o berço do monaquismo, que se difundiu pelos lugares retirados do Egito, da Palestina, da Síria....
São Basílico Magno, foi o grande legislador do monaquismo oriental, dando a este uma ampla motivação teológica. Escreveu duas regras cenobícas, que ficaram famosas na história da espiritualidade. Louvava os mosteiros como lugar em que se pode exercer a caridade fraterna mais que no deserto, e como depositários da plenitude dos carismas do Espírito Santo (comunhão de dons).
Martinho de Tours (+397 d.C) é o primeiro monge documentado no Ocidente. Filho de um soldado romano aos quinze anos já seguia à profissão do pai, mas sua verdadeira vocação sobreviveu à sua vida militar. Aos dezoito anos abandonou a milícia, recebeu o batismo e seguiu Santo Hilário de Poitiers, seu mestre. Após um breve noviciado na vida eremítica, fundou alguns moteiros. Discípulos se reuniram em torno dele e, nas cavernas das margens do rio Loira, desenvolveu-se a primeira col6onia monástica da Igreja do Ocidente. Mas em 375 foi eleito bispo de Tours, e tornou-se o grande evangelizador do centro da França Tinha sido como se disse um soldado sem querer, monge por escolha e bispo por dever. Seu mosteiro progrediu tanto que seus monges eram procurados para exercer o cargo de bispos.
São Bento é conhecido como "patriarca do monges ocidentais". Nasceu por volta de 480 em Núrsia (Itália), de nobre família rural romana. Começou em Roma seus estudos de artes literárias, mas não satisfeito com essa vida , logo retirou-se para os montes Sabinos (Subiaco) onde levou vida eremítica por três anos. Foi precisamente neste período que o demônio travou com ele as mais rude batalhas, obrigando-o por vezes a rolar sobre os espinhos para submeter a carne e guardar a santa castidade.
Sua fama começou a espalhar-se. Os monges de um pequeno mosteiro vizinho (Vicovaro) vieram procurá-lo na sua caverna, para que aceitasse dirigi-los, mas logo vieram a rejeitá-lo, exasperados com os esforços que o jovem abade fazia os reconduzir à disciplina. Bento voltou à sua gruta, e muitas almas se reuniram em torno dele. Fez aí uma experiência de vida semi-eremítica. Na plenitude de sua maturidade humana e monástica, perseguido por inveja, Bento viu mais uma vez, por detrás dos fatos, uma indicação da Providência: abandonou Subiaco e foi procurar fora dali um lugar onde sua obra pudesse lançar raízes. Com um grupo de jovens entre os quais Plácido e Mauro, emigrou para Nápoles, escolhendo sua morada no sopé do Monte Cassino, onde edificou seu primeiro mosteiro (berço da ordem beneditina), fechado dos quatro lados, como uma fortaleza e aberto à luz do alto como uma grande vasilha que recebe do céu a benéfica seiva para depois despejá-la no mundo. Até sua morte Bento fundou doze mosteiros. Em monte Cassino escreveu sua regra, valendo-se da tradição monástica oriental e ocidental e adaptando-a às condições de vida de época. A regra beneditina tornou-se famosa na Igreja por sua psicologia e linguagem jurídica segura. O triunfo da regra beneditina se deu em 817 quando todos os mosteiros do Ocidente adotaram a Regra de São Bento como norma única. De fato, até o século XI os monges do ocidente identificavam-se com os monges beneditinos.
É grande e relevante a contribuição do monaquismo, não só na vida da Igreja, mas na história, de modo especial no início do novo mundo (após a queda do Império Romano). Foram em grande parte os monges que evangelizaram os anglo-saxãos e outros povos germânicos (Inglaterra, Bélgica, Holanda, Norte da Alemanha, etc.); ensinaram aos povos bárbaros que vivam nos arredores dos mosteiros, os princípios de cultura; transmitiram às crianças e aos adolescentes os conhecimentos científicos e a formação cristã através das escolas monasteriais, que prepararam o nascimentos das universidades. Foram também eles, os copistas, que salvaram da ruína os tesouros da cultura romana, que através dos seus códigos e obras de arte, passaram para as gerações vindouras. Se quiséssemos sublinhar a parte ativa que os mosteiros tomaram no movimento literário, seria necessário escrever um compêndio de toda a história literária da Idade Média. Quer se trate de teologia, exegese, quer de história, poesia, matemáticas, gramáticas, quer ainda de filologia, a maioria dos pertencentes aos séculos VIII ao XII são recrutados entre os monges.
A história é uma parcela que os monges praticamente se reservam. Basta um lance de olhos aos trabalhos modernos relativos às fontes históricas para convencer-se disso. Em resumo, não seria descabido afirmar que toda a alta Idade Média lhes pertence: seria mais cômodo nomear os autores não monges. A teologia dos quatro primeiros séculos da Idade Média terá meta muito precisa: investigar e assentar solidamente a tradição católica, cujo sentido os monges possuem tão enviscerado. Por isso, esforça-se-ão para tornar mais inteligível a leitura da Escritura e dos principais Padres da Igreja. Este esforço teológico tem o mérito inegável de ter fixado a tradição católica sobre um bloco importante de pontos doutrinais. Um monge, Santo Anselmo, foi quem abriu a porta a novas correntes, inaugurando nova época. Ele é o primeiro filósofo que faz teologia. Foi no claustro de um mosteiro que foi impresso o primeiro livro no mundo (mosteiro de Santa Escolástica, Subiaco, Itália). Foram, ainda, os monges que muitas vezes estiveram à frente das fileiras da Igreja no combate as heresias; que contribuíram fortemente com a liturgia, especialmente através da música sacra (o canto gregoriano tem como pai São Gregório Magno, a quem se deve a mais completa biografia de São Bento. Vale lembrar que antes de ser papa ele foi monge) e que deram à Igreja inúmeros santos.

Pequena História da Vida Consagrada - Parte III

As Ordens Mendicantes
Quando a Igreja atingiu o ápice do poder temporal, na Idade Média, Deus quis suscitar no início do século XIII as ordens mendicantes. Nasceu no Papa Inocêncio III, o projeto de suscitar uma nova forma de pregação, mais próxima do povo e mais bem preparada na defesa da fé.
Sonhou com homens de muita fé, inspirados no ideal evangélico, desprendido dos bens deste mundo, capazes de dirigir-se aos humildes com as mãos abertas para lhes dizer outra vez palavras de amor e de verdade. E a Providência iria responder a esse apelo, porque no momento em que Inocêncio escrevia a sua bula profética, começavam a surgir no núcleo mais vivo da comunidade cristã aqueles a quem caberia levedar mais uma vez a massa cristã numa encruzilhada decisiva da história: as Ordens mendicantes. O aparecimento destas Ordens foi o acontecimento mais notável da vida íntima da Igreja da época. O imensa êxito que os mendicantes alcançaram prova que eles corresponderam às expectativas do tempo.
As vocações afluiram torrencialmente:
Vários métodos de organização dos mendicantes foram imitados pelas antigas ordens, e o exemplo dos mendicantes arrastou para as Universidades, Ordens antigas, como os beneditinos de Cluncy e os cistercienses.
O clero secular tornou-se mais fiel às suas obrigações sacerdotais, e toda a vida, monástica, estimulada pelo surto das Ordes Franciscana e Dominicana, enriqueceu-se na primeira metade do século XIII com uma verdadeira floração de novas congregações.
O ideal de pobreza que abraçaram exerceu enorme influência na sociedade e na Igreja pondo freio ao desenvolvimento desmedido da civilização materialista, e a Igreja do Século XIII foi por eles admoestada a não se preocupar com questões temporais a ponto de esquecer a sua missão divina.
A sua ação teve também resultados no domínio da concórdia especialmente quando no ano 1233 os dominicanos e os franciscanos se espalharam por toda a parte num esforço extraordinário, que foi assinalado por espetaculares reconciliações entre famílias, clãs e até entre cidade. Deste movimento resultaram "associações de paz", confundidas muitas vezes com as duas Ordens terceiras, por meio das quais elas mantinham a sua ação a sociedade.
Desenvolveram grande abertura para os leigos e pessoas casadas, proporcionado-lhes vida regular de oração, penitência e caridade, através das ordens terceiras.
Não foram poucos os confessores e conselheiros dos reis e de suas famílias. Os seus conventos não se situavam nas regiões clunicense nem nos pântanos solitários de Cister, mas nas cidades, e se tornaram centros de vida intelectual, espiritual e até política.
Foi também a eles que a Igreja recorreu quando teve de defender-se contra as heresias. Serão também os Mendicantes que veremos liderar um grande movimento missionário que se lançará entre os infiéis, procurando ganha-los para Cristo pelo amor.
Há ainda um último ponto em que a ação dos Mendicantes se mostrou decisiva: na ordem intelectual. Num momento em que se produzia uma grande fermentação dos espíritos, elas encontravam-se especialmente preparadas para assumir e orientar as curiosidades dos seus contemporâneos. Assim, em última análise, as ordens mendicantes dera à "reforma" do século XIII uma eficaz originalidade. O retorno ao Evangelho, que eles pregavam foi a sua característica em todos os domínios, tanto canônico, como na vida social e mesmo nas formas de devoção. Graças a eles, as indispensáveis transformações não se realizaram fora da Igreja, nem contra ela, as no seu seio.
Praticamente todo os Papas do século XIII manifestavam a maior simpatia pelas ordem mendicantes, que constituíram uma milícia devotada ao Papa, uma organização de propaganda maravilhosamente ativa em difundir o seu pensamento, e um corpo de diplomata para as missões difíceis ou perigosas.
Não foi apenas no plano da reforma moral e nas suas lutas temporais que os Mendicantes ajudaram. Eles foram também os instrumentos de uma nova concepção da Igreja e do seu papel, mais universalista, mais adaptado a uma sociedade ampliada: a igreja das missões.
As Ordens Religiosas Contra - Reformistas
Após reforma protestante, onde a Igreja e o Papa foram profundamente atacados. Deus suscitou as chamadas ordens contra - reformista, caracterizadas por uma humilde e incondicional obediência ao Papa e fortalecimento da formação do clero, Santo Inácio) e as carmelitas reformadas ( oração em favor da Igreja e busca da perfeição cristã, Santa Tereza).
As Congregações Religiosas
Floresceram ao longo dos séculos muitas outras expressões de vida religiosa, nas quais inúmeras pessoas, renunciando ao mundo, se consagraram a Deus, através do profissão pública dos conselhos evangélicos segundo um carisma específico e numa forma estável de vida comum, para um serviço apostólico pluriforme ao Povo de Deus. Temos assim, as Congregações Religiosas masculinas e femininas, e geral, dedicadas à atividade apostólica e missionária e às múltiplas obras que a caridade cristã suscitou.
É um testemunho esplêndido e variado, onde se reflete s multiplicidade dos dons dispensados por Deus aos fundadores e fundadoras que, abertos à ação do Espirito Santo, souberam interpretar os sinais os tempos e responder de forma esclarecida, às exigências que iam aparecendo.
Podemos citar as irmãs da caridade de São Vicente de Paulo (obra de caridade), Irmãos Maristas e Irmãs Dorotéias (educação), Irmãs Paulinas (comunicação), Salesianos (educação da juventude), Mercedários (penitenciárias) Franciscanas Hospitaleiras (doentes), Missionários do Sagrado Coração (missão), etc.

Pequena História da Vida Consagrada - Parte IV

 
Sociedade de Vida Apostólica
As Sociedades de vida apostólica, masculinas femininas, nascidas nos últimos séculos buscam com seu estilo próprio, um específico fim apostólico e missionário.
Podemos citar: Eudista (formação) e Missionários de Nossa Senhora da África (missão).
Os Institutos Seculares
O Século atual (Século XX) é testemunho do surgimento de mais uma forma de vida consagrada, que são os institutos de vida seculares.
Os institutos de vida secular respondem as necessidades de transformação das estruturas e instituições próprias da sociedade. Através da síntese de secularidade e consagração, que o caracteriza, eles querem infundir na sociedade as energias nova do Reno de Cristo, procurando transfigurar o mundo a partir de dentro com a força das bem-aventuranças. Desta forma, ao mesmo tempo que a pertença total a Deus os torna plenamente consagrados ao seu serviço, a sua atividade nas condições normais de leigos contribui, sob a ação do Espírito, para a animação evangélica das realidades seculares.
Também realizam uma função preciosa os institutos seculares nos quais os sacerdotes do clero diocesano se consagram a Cristo através da prática dos conselhos evangélicos segundo um específico carisma.
As Comunidades Novas
O Espírito de Deus que sempre orientou e sustentou toda a história da Igreja, suscita nos tempos de hoje novas formas de consagração e vida evangélica. Assim como as diversas formas de vida consagrada e comunitária surgidas no decorrer dos vinte séculos do cristianismo, as "comunidade novas" ou "novas fundações" são, por um desígnio da divina providência uma resposta para as necessidades da Igreja e do mundo de hoje.
As "comunidades novas" respondem a tais necessidades, em primeiro lugar, pela fidelidade ao chamado específico que o Senhor faz a elas e como conseqüência dessa fidelidade através de uma autêntica vida litúrgica; da formação e do engajamento do laicato; de um amor incondicional pela hierarquia, de modo especial pelo Papa; de uma sólida vida espiritual (ascese e mística); de uma fé purificada; de uma vida moral no Espírito; e de modo especial através de uma força evangelizadora e pastoral que penetra nas realidades atuais e no coração do homem contemporâneo.
Tratando da realidade das "comunidades novas" o instrumentum laboris do sínodo dos bispos afirma: "quanto ao estilo de vida evangélica, muitas vezes se destinguem por uma forte austeridade de vida, intensa oração, resgate de formas sãs de devoção tradicional, divisão dos trabalhos domésticos e manuais pela parte de todos os membros. Sob o aspecto apostólico, é forte o impulso missionário, rumo aos distantes e rumo àqueles que nunca receberam o Evangelho; o empenho na nova evangelização, a ecumênica; a aproximação dos pobres e dos marginalizados".
"O Espírito, que ao longo dos tempos suscitou numerosas formas de vida consagrada, não cessa de assumir a Igreja, quer alimentado nos institutos já existentes o esforço de renovação na fidelidade ao carisma original, quer distribuindo novos carismas a homens e mulheres do nosso tempo, para que dêem vida a instituições adequadas aos desafios de hoje. Sinal desta intervenção divina são as chamadas "Novas Fundações". Com características de algum modo originais relativamente às tradicionais.
A originalidade destas novas comunidades consiste freqüentemente no fato de se tratar de grupos compostos de homens e mulheres, de clérigos e leigos, de casados e solteiros, que seguem um estilo particular de vida, inspirado as vezes numa ou noutra forma tradicional ou adaptação às exigências da sociedade atual. Também o seu compromisso de vida evangélica se exprime em formas diversas, manifestando-se como tendência geral, uma intensa aspiração à vida comunitária, à pobreza e à oração. No governo, participam clérigos e leigos, segundo as respetivas competências e o fim vai ao encontro das solicitações da nova evangelização.
As novas formas (de vida evangélica) são um Dom do Espírito, para que a Igreja siga o seu Senhor, num impulso perene de generosidade, atenta as apelos de Deus que se revelam através dos sinais dos tempos. Assim, ela apresenta-se ao mundo diversificado nas suas formas de santidade e de serviço, como "sinal e instrumento da íntima união com Deus e da unidade de todo gênero humano". Os antigos institutos, muitos deles acrisolados por provas duríssimas suportadas com fortaleza ao longo dos séculos, podem enriquecer-se entrando em diálogo e troca de dons com as fundações que surgem no nosso tempo.
Desse modo, o vigor das várias instituições de vida consagrada, desde as mais antigas até as mais recentes, e ainda vivacidade das novas comunidades alimentarão a fidelidade ao Espírito Santo, que é principio de comunhão e de novidade perene de vida" (JOÃO PAULO II, Exortação apostólica Vita Consecrata).
"Na Igreja, tanto hoje como no passado, novas formas de vida comunitária exprimem a fecundidade de Espírito e do Evangelho de Jesus. Como pastor, entrei em contato com várias destas novas formas de consagração. Ainda não disponho de dados precisos acerca da extensão deste fenômeno, mas calcula-se que as "novas" comunidades já se possam contar em centenas no mundo. Este é um sinal dos tempos, que exige uma abertura e um atento discernimento. Parece-me que, embora na diversidade dos caminhos e dos carismas, e dentro dos limites próprios de cada experiência esta novas formas de vida evangélica estejam assinaladas por alguns elementos e algumas características mais ou menos comuns.
As novas comunidades não se identificam com as atuais formas de vida consagrada. Apresentam-se com freqüência como "famílias eclesiais", porque , ao redor de um comum carisma de fundação bem definido, convergem leigos, clérigos, pessoas solteiras e casadas que, no respeito dos diferentes estados de vida, se consagram a um idêntico ideal evangélica, como membros igualitários de um único corpo, com diversas níveis de pertencer.
Normalmente, podem-se verificar as seguintes características:
a) A unidade da obra e da presidência;.
b) Uma certa radicalidade evangélica;
c) A unidade entre a consagração e a missão, compeendida como carisma particular;
d) Um forte sentido comunitário com o evidente primado do ser comunhão sobre o fazer;
e) O exercício da autoridade vivido em conformidade com a comunhão;
f) O desejo de evita a identificação entre a sacerdócio e autoridade, a fim de respeitar e promover a laicidade;
g) Uma clara aceitação da pobreza e do abandono à Providência;
h) Uma vida de oração intensa. Tanto pessoal como comunitária;
i) Um vivo Fervor missionário;
Parece Oportuno:
a) Favorecer a experimentação e aprovação destas "novas comunidades", encorajando os Bispos e os sacerdotes a acompanhá-las no exercício do discernimento dos seus carismas. É importante que o seu enquadramento jurídico não seja rígido, a fim de não sacrificar a novidade do Espírito Santo;
b) Constituir uma Comissão interdicasterial adequada, que estude estas novas formas, aceitando e valorizando, sem inibições, aquilo que é novo e verdadeiro e que reveja os conceitos de vida consagrada, e também a própria estrutura dos votos clássicos que, com efeito, já se têm as novas formulações".